O dia era tão calmo e
silente que mais parecia uma cidade fantasma do que a capital. As nuvens
cubriam o céu azul num tom cinza estonteantemente belo. O ônibus seguia sua
rota sem qualquer intervenção de outros carros. E nele eu ia, viajando pelos
cenários de minha amada cidade. Mas viajando principalmente pelos pensamentos
que consomem a minha jovem alma solitária em meio ao urbano. Deveras a calmaria
contribuia bastante para que a solidão se solidificasse no meu estado de
espírito aquele dia.
Que dia lindo! É bom pensar. É bom estar sozinho, de vez em
quando. É bom lembrar e relembrar coisas que não voltam. Repensar os erros,
recordar com carinho os tempos que foram bons. Pensar nos velhos amigos, nas
loucuras juvenis, nas antigas paixões, nos velhos gostos que permanecem ou não
os mesmos. É bom ver a progressão da vida. Será que estamos onde queríamos
estar? Será que mudamos muito no nosso jeito, no nosso modo de viver, no nosso
modo de tratar as pessoas ou de ver as coisas? Será que realizamos aquilo que
nos propusemos antes? Será que muitas coisas foram deixadas de lado por não
importarem mais? Ou será que desistimos de algumas coisas por mera fraqueza?
Ah, são tantas coisas que atravessam a mente! Como decidir
no que pensar? As coisas só vêm, de fato. E minha cabeça dançava, trocando de
par todo o tempo. Ora num pensamento, ora noutro. E o baile seguiu assim
durante a quase uma hora que permaneci no ônibus. O caminho é longo, mas a
mente é tão mais do que apenas uma hora. E mal sobrou tempo para pensar em
tantas coisas mais...