Era tarde da noite. Ela não esperava tão cedo em sua juventude, mas já estava morrendo. Ela não sentia mais qualquer coisa. A dor já tinha ido embora. Seus pulsos iam ficando cada vez mais fracos, hora a hora, minuto a minuto. Não chorava mais. Só conseguia fitar a parede branca de seu quarto e os móveis empoeirados que estavam cheios de folhas escritas. Escritos feitos com lágrimas, sangue e dor. A pena que ela utilizava estava esfolada sobre seu criado mudo. As roupas manchadas com tanto choro e as feridas ainda pulsavam. Mas ela já não sentia mais nada disso. Sua dor foi tão enorme que a privou de suas sensações, de seus infortúnios, de sua própria vida. Ela fenecia, deitada em sua cama gelada, sem amor, sem qualquer um que pudesse ajudá-la. A neve caía. Em silêncio total, a não ser pelas corujas e algum ruído da velha casa de madeira, ela tentava fechar os olhos e adormecer para sempre. O vento ruía e com pressa ela tentava dormir. Mas a morte queria se divertir com ela, vê-la ir-se aos poucos. E quanto mais ela tentava, mais ela permanecia acordada em sua mente vazia e perdida. Até que então, quase pela manhã, ela conseguiu fechar os olhos e ver sua vida passando em flashes de memória. E assim ela se foi, vendo os seus dias de glória enquanto o inverno açoitava o mundo naquela madrugada.
Uma canção que pudesse definir esse texto não sei se existe. Mas que quase toda noite é assim, é inevitável ...
Snow - Kamelot
"I don't remember how
I felt the night, she came
Memories spin around
They flow"